Prestígio em baixa

SUBSTITUTO
Amorim recebe de Kofi Annan o prêmio de Lula
Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, funcionou sempre como termômetro do que ocorre na economia global. Em 2007, com as bolsas em alta generalizada, a euforia dominou os debates. No ano seguinte, surgiram as primeiras preocupações. Já em 2009, o clima de enterro tomou conta de um mundo mergulhado na crise, que os homens de Davos não conseguiram prever. Nesse início de 2010, o que se viu foi uma mistura de otimismo com cautela e receio. Os bancos, que são importantes financiadores do fórum, continuam lutando contra as pressões por uma regulação mais forte do setor. Com o enfraquecimento dos atores privados, ficou claro que os remédios para a crise não estão mais em Davos. Quem dá as cartas, agora, é o G-20 – fórum de nações que se fortaleceu por iniciativa do Brasil e terá sua próxima reunião em Toronto, no Canadá, em junho. “Na cúpula do G-20, vamos persuadir os outros países a adotar uma regulação financeira nacional suficientemente forte para evitar a repetição da crise global”, disse o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper. O esvaziamento de Davos ficou claro com as ausências do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e dos primeiros-ministros da Inglaterra, Gordon Brown, e da Alemanha, Angela Merkel. Mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só confirmou a presença depois da notícia de que receberia o prêmio “Estadista Global”. Ele permaneceria só três horas em Davos, mas acabou ficando no Brasil devido a uma crise de hipertensão. Lula foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que recebeu o prêmio do ex- secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Com a participação de poucos líderes de peso, a presidente da Suíça e ministra da Economia, Doris Leuthard, ganhou destaque ao endossar a necessidade de reformar o sistema financeiro internacional e culpar os banqueiros pela crise. Leuthard fez uma advertência aos antigos “senhores do universo”:

“A atuação do Brasil no apoio ao Haiti foi um trabalho excelente”
Bill Clinton
“É hora de voltar à realidade. A influência e o poder econômico estão mudando de mãos.” Na verdade, já mudou. David Rubenstein, cofundador da empresa de private equity Carlyle Group, declarou que o lugar mais atraente para se investir hoje “são os países emergentes”. A seu ver, países como os BRICs (Brasil, Índia, Rússia e China) são os únicos com capacidade de crescimento superior a 5%, enquanto os desenvolvidos se arrastam para chegar aos 2%. “Dou crédito a Lula por ter conseguido macroestabilidade. Estou otimista em relação ao Brasil”, disse o economista Nouriel Roubini, um dos poucos que previram a crise financeira mundial. O pacote americano para taxar bancos e resgatar a Lei Glass-Steagal – extinta em 1999 no governo Clinton –, que separa os bancos comerciais e de investimentos, dividiu os economistas. Para Roubini, o governo americano tem tido “excesso de tolerância”. No painel comandado por Bill Clinton, “Não me diga que não pode fazer isso”, a ajuda ao Haiti foi o principal tema. Amorim, por sua vez, sugeriu que todos os países reduzam o imposto de importação sobre mercadorias haitianas. Bem recebida, a ideia mostrou outra inversão de papéis em Davos. No Fórum EconômicoMundial, uma das principais contribuiçõesfoi de cunho social.